Clarissa é um projecto específico para a internet de recolha e organização de informação que parte da definição do que cada uma entende por fetiche. ____Clarissa vem na continuação do projecto Wanda que começou há cerca de um ano com o convite feito a vários mulheres para que contribuíssem para criar um espaço de depósito das suas fantasias sexuais (produções imaginárias a partir do seu desejo), para mais tarde servirem de material quer de análise, quer de sucessivas transformações com o fim de se produzirem novos “objectos culturais”.____O projecto Wanda estende-se por três blogs: um serve de arquivo, um de depósito e o terceiro serve para apresentar as crónicas. Fora da internet, e do seu contexto original (blogs), a Wanda apresenta-se em diferentes formas e formatos: performance, concerto (spoken word), exposição, revista e vídeo.____Para a recolha de informação inicial começou por ser pedido que se registassem as fantasias em pequenos apontamentos e pouco depois foi lançado o desafio de desenvolver as fantasias em crónicas. O exercício em que se pretendia envolver as participantes (o de “fantasiar”) tornou-se mais completo e constante quando foi dada continuidade à fantasia narrada. A passagem subtil de uma pequena ideia, uma breve luz ou um apontamento rápido, para as crónicas trouxe ao projecto uma nova dimensão. As fantasias e as crónicas são formas literárias diferentes de expressar a intimidade de cada uma, no entanto, o exercício, o processo de desenvolvimento da capacidade de criar “imagens”, projecções do desejo, é o mesmo.____A Clarissa surgiu tal como a Wanda de uma conversa com algumas conhecidas sobre a existência de fetiches. Questionamos quais os conhecidos, quais os desconhecidos, os bizarros e os que não eram sequer fetiches. A Wanda teve início em dada altura quando nenhuma mulher que eu conhecia se lembrava de uma fantasia para contar.____As questões que a Wanda enfrentou foram as seguintes: Quais são as fantasias femininas? O que as distingues das masculinas? Porque não são conhecidas? Porque é que não são públicas? Porque são inibidas? Porque é que as mulheres não se lembram se fantasiam? Porque é que as mulheres fantasiam? Quais os limites para as fantasias? O que as distingue da realidade?____Qualquer mulher, ou qualquer sujeito que assuma uma identidade feminina, tem a capacidade de fantasiar e o facto das suas fantasias não terem qualquer tipo de atenção nas diferentes representações imagéticas de carácter cultural, prende-se com a forma como a sexualidade feminina foi vista durante muito tempo. O modo como sempre se viu a mulher, como sujeito passivo, assexuado, dependente e sem vontade, tornou a sua capacidade de fantasiar enfraquecida, não podendo desenvolver imagens por si e aceitando as imagens impostas - culturalmente. Acredito que seria do interesse de todos que as fantasias femininas fossem expostas, conhecidas, comentadas e reproduzidas largamente. A força do imaginário feminino, quando conhecido e explorado, poderá mudar definitivamente as nossas vidas reais permitindo uma comunicação positiva entre sujeitos e entre os seus desejos e realizações.____As questões que a Clarissa lida são outras. Estamos de novo perante o universo feminino que se constitui a partir de pequenas peças que compõe a vida das convidadas a participar. Daqui é lançado novamente o convite a mais mulheres interessadas em se associar ou apenas em conhecer o projecto online através de uma simples viagem. Futuramente e na continuação do projecto pretende-se estender a Clarissa a quem se interessar (ou seja, a todos, sem limites), pois nesta abertura se apontarão novas direcções e mudanças, como serão testadas as premissas com que se começou a pensar o projecto.____É minha convicção que se poderá criar uma mudança real e definitiva no modo como entendemos o universo feminino e uma parte substancial dele, a sexualidade, empreendendo projectos e acções simples, levadas a cabo colectivamente ou não, e tornando esse esforço público.____No início da Clarissa constatei que os fetiches são muitos e bastante variáveis de pessoa para pessoa e que essa pluralidade é tão estimulante quanto aterradora.____A Wanda é sobre a sexualidade feminina.____A Clarissa também é, mas não só.____A Clarissa compõe-se de listas de fetiches: palavras que significam objectos, acções, nomes próprios, gestos, rituais, sensações, flashes, etc. A necessidade de organizar a informação e de a expandir levou-me a reflectir na melhor forma de torná-la acessível publicamente.____Comecei com uma lista de 25 palavras/fetiches de um modo muito livre, tendo como elemento de ordem a constância destas palavras e a relevância que tinham para mim. Esta lista sugeriu-me fazer dela uma datacloud e de a organizar seguindo alguns dos princípios traçados pelos Stealth.____O momento inicial de recolha de informação, passando pelo processo de discernimento do aleatório e do necessário, da selecção da 25 palavras no limite, levou-me de seguida a questionar como “resolver” a questão da sua organização. Por conseguinte, determinar como seria a informação visualizada. Dada a minha pouca familiaridade com o meio, a passagem para um suporte digital realizou-se de modo criativo recorrendo às ferramentas disponíveis, empregando conhecimentos adquiridos enquanto utilizador frequente de plataformas como o blogger, o myspace, o youtube, o flickr, entre outros.____Dadas as limitações referidas, o mapeamento que esteve na origem não é visualizado como eu tinha pensado, no entanto poderia ter resultado em algo próximo ao da Katharine Gates – referência constante ao longo deste projecto. DEVIANT DESIRES (mapa inicial, interactivo), DEVIANT DESIRES (mapa final).____A Clarissa é constituída por dois blogs, sendo um o índex e o outro contendo os resultados das palavras que constam do índex. A partir do blog índex abre sempre uma nova página que permite ao utilizador se encontrar se se perder. Ao índex serão adicionados novos fetiches. Ao blog dos resultados vão sendo acrescentados novos dados de informação que vão borbulhando, multiplicando-se à medida que as participantes quiserem e acharem necessário.
Abordagem prática à Datacloud / MDI - Cultura Digital